domingo, 14 de fevereiro de 2010

Dois corações (A arte de amar)

por Vera Barbosa

"De que é feito o amor? Dizem que o amor é paz." Os versos, na voz de Nana Caymmi, dão início à bela canção, e eu me ponho a acreditar que a afirmação é verdadeira. Depois de um longo processo de reconstrução interior, finalmente, redescobri o amor - e ele a mim. E, nessa fase de purificação do sentimento, sinto-me leve como uma bolinha de sabão. Serenidade, substantivo abstrato essencial à concretização da felicidade. A definição a meu respeito, hoje, é essa: estou serena.

Nos últimos meses, eu vinha me policiando e me reservando, a fim de evitar uma aproximação nociva de quem quer que fosse. Tá, eu não sou de cristal, mas quebro. Fico sem as pernas quando me decepciono com alguém e, a partir daí, faço mil questionamentos, revejo meus atos e conceitos (e também dos que me são próximos) à procura de uma resposta sobre o descaso com que as pessoas tratam os sentimentos alheios. Enfim, eu penso sem parar e não chego a conclusão alguma, além das tão conhecidas por todos: o ser humano é inconstante, egoísta e incompreensível.

Entretanto, em se tratando do que eu sinto e penso, tenho muita clareza do que me agrada, bem como do que tenho a oferecer e também do que espero. "Eu nunca quis pouco, falo de quantidade e intensidade", como Caetano explicitou. Claro, como qualquer outra pessoa, também tenho dúvidas, mas, quando elas surgem, eu não as ignoro, pois acredito que podem crescer e virar um bicho de sete cabeças que acabará me engolindo. E o começo-meio-e-fim vira um círculo vicioso: eu vivo, experimento, sinto. Aí, tudo vai pelo ralo, e eu recomeço o ciclo.

Diante das decepções vividas, eu decidi ficar na minha e evitei, ao máximo, um contato mais íntimo com qualquer pretendente. Em alguns momentos, hesitei e sucumbi ao desejo de burlar a solidão, mas nada que significasse uma ameça incisiva de quebra do meu silêncio. E fui ficando assim, bem comigo mesma, tranquila, desisti de apressar o rio e deixei que ele corresse sozinho. Foi então que constatei mais uma verdade: se você cuida bem do seu jardim, não precisa caçar borboletas, pois elas vêm e pousam sozinhas em seu canteiro.

Para arrematar o raciocínio, apesar dessa contenção de emoção a que me propus, nunca deixei de acreditar no ser humano e no amor. E a vida, tão generosa comigo, apronta suas peripécias e me coloca no caminho da refação sentimental. Quando menos espero, estou pronta para outra. Outra experiência, veja bem, não outra decepção. Porque essa sempre magoa e maltrata, não há como estar pronta para recebê-la.

E foi assim que tudo aconteceu, natural e espontaneamente. Chegou o momento de me entregar de corpo e alma e, sem pudores, me desnudo para essa que ainda é a melhor de todas as sensações que a vida pode nos proporcionar. Termino com os versos do saudoso Gonzaguinha, num brinde à delicadeza do amor.

Vida, vida, vida
Que seja do jeito que for
Mar, amar, amor
Se é dor, quero um mar dessa dor
Quero meu peito repleto
De tudo que eu possa abraçar
Quero a sede e a fome eternas
De amar, e amar, e amar

Tédio

por Vera Barbosa
Vou falar sobre motivação, mas esse não é um texto de auto-ajuda nem pretende resolver problema algum de quem quer que seja. Apenas reflito porque a cabeça não pára, ainda que o telefone da PA não toque. Em que focar a mente para que o cérebro não estacione até que entre um próximo paciente na linha? Eis a questão, caros colegas. Devo pensar que faltam apenas duas horas e quarenta e cinco minutos para ir embora ou imaginar se irei me divertir, logo mais, à noite? Será que é possível vencer o tédio? Conversava com um colega de trabalho, pois não havia fila e, portanto, não entrava ligação. Então, pedi que ele me sugerisse um tema e ele disse apenas "tédio". Daí, me pus a pensar em como me manter motivada nessa e tantas outras circunstâncias da vida. Porque é fato que, em algumas situações, ele (o entediante tédio) aparece para nos paralisar. A redundância é proposital.

Já que estou no trabalho e não posso ler um livro que comprei nessa semana nem minha revista predileta, tampouco ouvir um CD que acabei de ganhar, eu penso: é tudo o que me resta. E, para que o desespero não me alcance e o sono não me pegue, arrisco essas linhas. Afinal de contas, é feriado, o sol brilha lá fora e as pessoas se divertem enquanto eu trabalho. Trabalho? Tudo bem que fazer nada também é bom às vezes. Rita Lee cantou, certa vez, "nada melhor do que não fazer nada, só pra deitar e rolar com você". Com você, né? Não é o caso! É, acho que vou viajar um pouco e pensar no meu próximo encontro. Ao menos, isso me deixará leve, suave, como diriam minhas sobrinhas. Aliás, a garotada anda leve demais, não? Mas isso é tema para um próximo artigo.

Voltando à questão do tédio, nos anos 80, uma banda (seria Engenheiros do Hawai ou Biquíni Cavadão? Talvez Ira, perdoem-me, mas não me recordo) cantou que "Deitado no meu quarto, o tempo voa / lá fora, a vida passa e eu aqui à toa / Já tentei de tudo, mas não tenho remédio pra livrar-me desse tédio.). Quando a gente está de papo pro ar, numa praia, com amigos, não se sente incomodar. É bom não fazer nada. Apenas conversar, rir, tomar um banho de mar, uma cerveja ou um refrigerante ou aquele sorvete predileto. Então, me vem Santa Rita de Sampa, novamente, à cabeça: "Ai quem me dera, um dia ficar de papo pro ar... ouvindo o som de uma viola".)

Somos mesmo contraditórios. Às vezes, fazemos tudo de um vez, ou, pelo menos, tentamos fazer. Queremos abraçar o mundo com as mãos, assoviar e chupar cana! Noutras, nos entregamos à preguiça, num direito mortal de não pensar em nada. Hoje, eu queria que esse telefone não parasse. Não gosto de ficar olhando para o relógio do PC. É bom quando a fila é grande e atendo sem parar porque as horas voam e o meu expediente acaba rapidinho. Não é o caso nessa tarde.

Portanto, concluo que a melhor forma de espantar o tédio é mantendo-se ocupado. Há um dito popular segundo o qual "cabeça desocupada é moradia pro diabo", um lance assim. E é verdade. Enquanto produzimos, não temos tempo para pensar - nem fazer! - besteiras. Tempo ocioso só é bom se bem aproveitado e, geralmente, não é o que acontece. Começa-se a pensar nos problemas, nas dívidas, a briga com o namorado etc e tal. Se você também não tem nada pra fazer e está lendo esse texto, lamento profundamente. Talvez fosse melhor você ter ao alcance dos olhos um soneto de Drummond ou uma crônica de Rubem Alves. Talvez quisesse ouvir o CD da sua banda de rock favorita ou pegar um cinema com sua gatinha. Ou ir pra uma balada com sua turma mais animada... É, "infelizmente, nem tudo é exatamente como a gente quer".

Quanto a mim, sabe que foi bom escrever? Agora, falta apenas uma hora para eu ir embora. Está vendo como se ocupar é bom?

O nome do seu sócio

por Vera Barbosa
"Brasil, mostra a sua cara. Quero ver quem paga pra gente ficar assim."

É, não tem jeito: esse é o país do jeitinho e das desiguladades. E, no país dos privilégios concedidos a minorias, são comuns os conchavos. Haja vista as reportagens diárias nos telejornais. Propinas, máfia disso e daquilo, jogos de interesses, desvios de verbas públicas etc e tal. Enfim, é assim que as coisas funcionam por aqui. E a triste constação não é algo impessoal e intransferível: quando a gente menos espera, é a próxima vítima.

Não adianta você ser um cidadão correto e cumpridor dos seus deveres. Pouco importa se é um profissional competente e que respeita o próximo e seus direitos, se trabalha corretamente e não prejudica o desempenho dos colegas. Pouco importa. No mundinho podre das relações profissionais, com raras exceções, não são os valores morais e éticos que determinam sua trajetória. Infelizmente, a realidade é outra. É dura. Crua. E corta feito navalha.

Não é incomum se ouvir que determinada pessoa se deu mal porque não caiu nas graças de seu(s) superior(es). Não é raro perceber que os princípios que permeiam as relações de trabalho no Brasil estão, cada vez mais, deteriorados. E, nesse submundo, a bunda é um dos quesitos que mais se destacam. Sim, é isso mesmo infelizmente. Em pleno século XXI, a mulher ainda é vista como objeto sexual. E, claro, como cada uma usa as armas que têm, há quem aceite ser favorecida por isso. Lamentável.

Você já deve ter percebido que esse não é o meu caso nem da maioria, já que não fomos dotadas pelo todo-poderoso nesse aspecto. Fico indignada com essa falta de critérios, pois ao contrário das boazudas, precisamos nos destacar pela competência e, ainda que ela seja superiormente visível, devemos aceitar os fatos e não reagir. Afinal, justiça é algo que não existe nesse país e seria dar murro em ponta de faca. Na maoiria das vezes, não se pode, sequer, questionar, já que "quem pode manda e quem tem juízo obedece". O desemprego está aí, para todo mundo ver, com milhões de pessoas fora do mercado de trabalho, muitas delas com talento e sem conseguir uma oportunidade. Obviamente, quem discorda é hostilizado e rechaçado pelos responsáveis e vai para o olho da rua. Então, só nos resta o desabafo.

Essas e outras atitudes refletem o total desrespeito praticado por quem está no poder e só defende interesses próprios e também por quem aceita essa condição. É como suborno, prevaricação, carteiradas. Continuam existindo porque há quem compactue, as pessoas colaboram ao aceitar, a discriminação é cultural e muito triste.
Contudo, quero e preciso acreditar que nada é para sempre. Por isso, não me calo: uma hora, essa realidade terá de mudar. Tomara estejamos vivos para testemunhar.

Um palavra

por Vera Barbosa

Algumas pessoas não acreditam, mas as palavras têm grande poder. Positiva ou negativamente. Parafraseando Chico Buarque, autor da canção que dá nome a esse artigo, as palavras têm vida e temperatura. Por isso, é preciso muito cuidado ao proferi-las. Muitas vezes, temos a oportunidade de lançá-las e produzir um efeito grandioso em alguém, mas não o fazemos. Em outras, temos a infelicidade de utilizá-las de forma inadequada e acabamos causando grande prejuízo emocional a quem as recebe.

Pare para pensar em quantas vezes você magoou alguém (ou foi magoado) ao dizer algo sem pensar, de sopetão, agindo sem medir consequências. Talvez, para você, isso nada tenha significado. Mas, para quem escutou, as palavras podem ter tocado em alguma ferida muito profunda. Tudo bem, somos humanos e podemos errar. Contudo, é possível se policiar e corrigir essas atitudes. Se não estivermos atentos aos efeitos de nossas manifestações, passaremos a vida causando estragos por aí.

Há dias em que tudo o que a gente precisa é de uma palavra amiga. Todo mundo quer carinho e atenção de alguém que saiba ouvir e amenizar sua tristeza, sua dor, seja física ou emocional. Claro que isso não significa que devamos ignorar fatos. Como amigos, temos o dever de discordar, isso é saudável. É possível apontar um erro sem ofender, da mesma forma que podemos transgredir sem agredir. Ou seja, tudo é questão de bom senso e respeito ao próximo.

Assim como os pensamentos devem estar canalizados na sintonia da saúde, do sucesso e da prosperidade, também as palavras devem soar de forma a causar reações que ajudem as pessoas a crescer. E uma palavra bem dita é capaz de transformar o dia de uma pessoa e motivá-la a melhorar sempre e mais. Esopo disse, sabiamente, que "nenhum gesto de gentileza, por menor que seja, é perdido". Se damos nosso melhor, certamente, receberemos o melhor também, já que tudo o que vai volta.

Portanto, esteja atento ao que você diz e como diz. Há formas e formas de se falar algo a alguém. É possível expressar o que se pensa sem ferir e fazer com que o outro se sinta a pior das espécies. Lembre-se de que, em alguns momentos, será você quem estará do lado de lá. Ser amável com as pessoas atrai coisas boas e delicadas, pois gentileza gera gentileza.