quinta-feira, 18 de julho de 2013

É que um carinho, às vezes, cai bem.

por Vera Barbosa



Somos mobilizados por afeto.  

Memória afetiva é um aglomerado de percepções sensoriais que determinam nosso desenvolvimento psicológico. As lembranças afetivas (algumas delas inconscientes) são fundamentais ao auto-conhecimento. Quando resgatamos memórias afetivas, trabalhamos nossa consciência e a capacidade de transformar o que nos foi doloroso, podendo seguir em frente. 

As várias performances da memória definem quem somos:

O conforto e a proteção do útero da mãe, 
as primeiras sensações emocionais.

O primeiro passo,
a primeira palavra,
as primeiras carícias.

Uma pessoa,
uma cor,
uma flor,
um lugar,
um odor,
um sabor,
um som.

A primeira professora,
o primeiro amigo,
o primeiro amor.

O primeiro boletim,
a primeira formatura,
o primeiro diploma.

O primeiro filme no cinema,
a primeira ida ao parque de diversões,
o primeiro picadeiro.

O primeiro algodão-doce,
a primeira pipoca,
o primeiro sorvete.

O primeiro encontro com o mar...
O primeiro pôr-de-sol na praia...
O primeiro mergulho.

A primeira festa de aniversário,
o primeiro encontro,
a primeira despedida.

O primeiro beijo,
a primeira transa,
o primeiro orgasmo.

A primeira perda,
o primeiro não,
a primeira decepção.

O primeiro livro,
a primeira leitura,
a primeira fantasia.

O primeiro emprego, 
o primeiro salário,
a primeira conquista.

A primeira alegria.

A primeira tristeza.

E uma música.
No meu caso, sobretudo, uma música.

Os diálogos entre passado e presente estimulam nossos campos cognitivos, levando-nos a reconstruir momentos, sensações, paisagens e sentimentos, já que a memória afetiva é carregada de subjetividades.  

Revisitando, analisando, compreendendo e interpretando os signos de nossas experiências afetivas, direcionamos melhor o nosso desenvolvimento pessoal e nossa trajetória. 

* Ao som de Sozinho - Caetano Veloso

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Plenitude e Poesia (luz por entre os cachos amarelos do ipê)

por Vera Barbosa


Poesia é a vida sendo recheada de carinhos e delicadezas. Está nas coisas mais simples e expressivas, como uma criança dormindo profundamente relaxada. Está na beleza das flores, do sol e da chuva. Está no amor, no brilho de um olhar apaixonado, na bolha de sabão que explode, suavemente, no espaço. Na alegria de viver, na espontaneidade de um sorriso. Como disse o Poetinha, está na beleza de cada encontro, embora haja tantos desencontros pela vida... Está em mim e em ti, basta descobri-la.

Tenha uma tarde/noite plena de poesia!


*** Ao som de Cordilheira - Djavan

sábado, 27 de abril de 2013

Nascente (quais são as cores que são suas cores de predileção?)

por Vera Barbosa


Acordei vermelho-alaranjado
Impressionismo tatuado 
[na pele]
Que grita teu nome
Sol que me seduz


***Ao som de  Rai das Cores - Caetano Veloso

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Sabor e Amor (O amor da gente é como um grão)


por Vera Barbosa


Encanta-me a arte de preparar o café – ainda que só para mim – e, antes de tomá-lo, deixar que ele me tome. Porque fazer café não é um simples ato de pó, coador e água fervente, há todo um ritual no carinho de quem o prepara. Em casa, a cafeteira fica, quase sempre, desligada e esquecida num canto da pia; apesar de toda a tecnologia do mundo moderno, preferimos o coador de pano. O sabor é outro, o odor também. Aqui, mamãe costuma torrar (em nosso fogão de lenha) e moer grãos de café vindos do Paraná, e o aroma invade toda a casa, sendo uma das sensações olfativas mais prazerosas de todas as que já tive na vida. Fazer o café é, portanto, uma viagem dos sentidos que me fascina! É mágico ir sentindo todo o processo: da beleza visual do plantio e do cultivo à colheita, passando pelo processo de torra (torrefação) dos grãos, seu formato e sua cor, o toque de quem os manuseia; e a moenda ou moagem, moeção ou moedura dos grãos, que exala toda a peculiaridade do aroma que me inebria, concretizando-se o desejo no prazer degustado à mesa posta com xícara de ágata, toalha branca de renda, uma canção suave e aquela fumacinha saindo do bule... 

*** Ao som de Drão - Gilberto Gil

sábado, 13 de abril de 2013

Beija eu (Este amor)

por Vera Barbosa

13/04 - Dia do Beijo
Tua boca brilhando, boca de mulher, nem mel nem mentira... Beija eu, magrelinha, me beija... Um beijo meu vem com melado, decorado, cor de rosa. Venha me beijar na luz do luar, venha sugar o calor de dentro do meu sangue vermelho! Molha eu, seca eu, deixa que eu seja o céu, me receba... e passa leve no meu lábio a língua enquanto lá fora a lua míngua. Só não vale um beijo partido, eu não gosto de quem me arruína em pedaços...


Trechos das canções:
Este amor - Caetano Veloso
Beija eu - Marisa Monte
Magrelinha - Luiz Melodia
Doce vampiro - Rita Lee
Calendário Lunar - Klébi Nori
Beijo partido - Toninho Horta

quarta-feira, 3 de abril de 2013

A menina dança


por Vera Barbosa


...e a gente cai e se levanta e se reinventa e se redescobre e transforma a vida e se transforma e modifica o cotidiano e desfaz muros e constrói pontes e chora e ri e se emociona e se desconstrói e se reconstrói e percebe que o ciclo é interminável, eterno processo de refação. Viver é um eterno recomeçar. Feliz novo ano para mim!

- Ao som de Baby Consuelo

sábado, 23 de março de 2013

Saudosismo (Eu, você, nós dois já temos um passado, meu amor)

por Vera Barbosa





Ele se lembrava delas, eram tantas! Rô, Beth, Eli, Mari (ana, ângela e outras Maris), Cláudia, Bel, Roberta, Carina, Margarete, Adriana, Vera, Rose, Jane, Silvia, Marisa, Andrea, Fátima... a lista de (des)amores era extensa nos seus quase 50 anos de existência. Sem falar das outras, de cujos nomes sequer lembrava! E pensando em tudo e todas, tentava recordar os melhores momentos de sua vida, revivendo os risos e beijos trocados no tempo e dos quais, jamais, poderia se esquecer...

- Ao som de Caetano Veloso -

sexta-feira, 8 de março de 2013

Identidade Feminina (Nem toda brasileira é bunda)

por Vera Barbosa

"Mero incidente
Corriqueiro
Ser mulher
A vida inteira"


São tantas as mulheres que me habitam e inspiram, mas, embora muitas, são unas, indivisíveis. São mães, donas de casa, professoras, poetas, jornalistas, revolucionárias, bailarinas, escritoras, atrizes. São Pagu, Cecilia, Ana, Clarice, Olga, Hilda, Joana, Isabel, Teresa, Ruth, Chiquinha, Carlota, Rosa, Anne, Quitéria, Eva, Lya, Norma, Elizabeth, Cora, Maria, Leila, Marina, Anita, Virginia, Indira , Dulce, Marilyn, Benazir, Helena, Chica, Simone, Rachel, Fernanda, Dilma... 

Mulheres que fizeram e fazem história, deixando seu legado através dos tempos. Mulheres que são referência para tantas gerações. Por suas ações transformadoras e pensamentos visionários, almas femininas exuberantes! Cada qual com sua parcela em minha formação intelectual, poética, política, espiritual; todas marcantes em minha essência e personalidade. "Todas elas juntas num só ser" e pelas quais "eu me transformo em outras". Pela "força, pela graça, pelos sonhos sempre". 

Mulheres que lutaram, muitas delas exiladas, afastadas do convívio familiar e social e outras tantas que morreram para que direitos básicos fossem respeitados. Porque ser mulher é isso, formar-se para formar opinião e transformar-se ao transformar sua realidade ao longo da história. Captar sonhos, reciclar conceitos, interagir com as diferenças e lutar, sobretudo lutar pelo que acredita e clamar por respeito e dignidade. 

A luta é nossa, não acabou.  É de cada uma, a cada dia e a todo instante. Cada qual à sua maneira e dentro de suas possibilidades, em casa, nas escolas, nas ruas, no trabalho, mas todas pelo bem comum. Importante é o movimento, a continuidade, a extensão do gesto e da intenção de mudar a realidade para melhor, diminuindo a opressão, a violência e a desigualdade. 

Ilusório pensar que um dia as extinguiremos? Talvez. Contudo, há que se ter esperança e atitude. A luta é diária, constante, dificultosamente incessante. Não esmoreçamos! Sigamos em frente, sem pressa, mas sem perder tempo. Um viva às mulheres que fizeram e fazem a diferença!

"Minha beleza
Não é efêmera
Como o que eu vejo
Em bancas por aí"

- Ao som de Bobagem (Céu) e Pagu (Maria Rita)