domingo, 9 de janeiro de 2011

Até quando? (ano novo, hábitos velhos)

por Vera Barbosa


O ser humano, salvo raras execeções, é mesmo incorrigível. Entra ano, sai ano, e as pessoas não modificam suas atitudes. A hipocrisia e a falta de transparência, de forma geral, comandam as relações familiares, profissionais e também os laços de amizade (amizade?). E, quando chega o Natal, um espírito de comoção invade as repartições e as casas, e todos passam a se amar incodicionalmente. Todo mundo se adora, quer o melhor para o próximo como a si mesmo. Infelizmente, no fundo, o que quase todo mundo quer é se dar bem, não importando a que preço e, infelizmente, o discurso do bom samaritano se perde nos primeiros dias do ano novo - se não antes.

Condenamos os políticos e as figuras públicas por seu mau caratismo e falta de ética, mas o indivíduo comum, genericamente falando, não se policia e não conduz suas relações com respeito e franqueza. Por essas e outras, continuamos a ser o país do jeitinho e dos conchavos, no qual eu faço que não sei, você finge que não sabe que eu sei e eu finjo que você acreditou. E, assim, vamos vivendo todos uma grande farsa.

A solidariedade e o respeito mútuo vão para o ralo quando a questão é o "eu", o outro que se dane, o individualismo perdura. As pessoas, em sua maioria, são dissimuladas, corruptas e mal intencionadas. Agem aos pares ou em grupo, uns sustentando os péssimos hábitos dos outros, a fim de se "protegerem". Se você não se enquadra e não participa, fica visto como o desagradável, o mal-humorado, talvez o encrenqueiro ou perturbador da paz. Mas a verdade é que sua transparência incomoda, pois a maioria é passiva e não quer se expor.

Há os que participam dissimuladamente e também os que não querem se "queimar" e, portanto, nunca se manifestam. Afinal, dá trabalho conflitar, discutir, se opor. Muito mais fácil ficar em cima do muro, não se incomodar e dizer amém a tudo e todos. "Eu não sei de nada", costumam dizer quando questionados, com as mãos para cima em sua defesa. São pessoas mornas, que não optam entre o quente e o frio, mas que ficam no meio termo a fim de se resguardarem dos conflitos. Eca, me dá asco! Isso é uma das coisas que mais me irritam na face da terra: gente sem atitude e posicionamento.

E por que estou falando tudo isso a um dia da virada do ano? É simples, eu explico. Porque, mais uma vez, testemunho essa representação por todos os lados. É um tal de beijo-abraço-aperto de mão muito mal encenados. Alguns desses artistas são tão medícores, que eu fico sem graça diante do faz-de-conta; é a tal "vergonha alheia" de que falam os jovens.

No novo ano, de verdade, desejo que as pessoas reflitam sobre sua nobreza e generosidade, o que lhes faz ricos ou pobres, pequenos ou grandes. Peço, sugiro, rogo que olhem para dentro de si, profundamente, e se descubram. E que percebam a necessidade de mudar. Como diz o Pensador, "quando a gente muda, o mundo muda com a gente / na mudança de postura, a gente fica mais seguro / na mudança do presente, a gente molda o futuro."

Desejo que as atitudes, assim como o ano, se renovem; que as pessoas façam planos e os objetivem com metas realistas! Que cada um seja mais humano, menos racional, exponha-se mais, corra riscos, permita-se errar, ame com liberdade. Sigamos o sábio conselho que diz que "o mundo pertence aos que se atrevem". Acomodar-se é dizer sim à mentira e à mediocridade.

Feliz 2011!
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Escrito em 30/12/10