quinta-feira, 25 de abril de 2013

Sabor e Amor (O amor da gente é como um grão)


por Vera Barbosa


Encanta-me a arte de preparar o café – ainda que só para mim – e, antes de tomá-lo, deixar que ele me tome. Porque fazer café não é um simples ato de pó, coador e água fervente, há todo um ritual no carinho de quem o prepara. Em casa, a cafeteira fica, quase sempre, desligada e esquecida num canto da pia; apesar de toda a tecnologia do mundo moderno, preferimos o coador de pano. O sabor é outro, o odor também. Aqui, mamãe costuma torrar (em nosso fogão de lenha) e moer grãos de café vindos do Paraná, e o aroma invade toda a casa, sendo uma das sensações olfativas mais prazerosas de todas as que já tive na vida. Fazer o café é, portanto, uma viagem dos sentidos que me fascina! É mágico ir sentindo todo o processo: da beleza visual do plantio e do cultivo à colheita, passando pelo processo de torra (torrefação) dos grãos, seu formato e sua cor, o toque de quem os manuseia; e a moenda ou moagem, moeção ou moedura dos grãos, que exala toda a peculiaridade do aroma que me inebria, concretizando-se o desejo no prazer degustado à mesa posta com xícara de ágata, toalha branca de renda, uma canção suave e aquela fumacinha saindo do bule... 

*** Ao som de Drão - Gilberto Gil

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