sexta-feira, 12 de junho de 2009

Fim de caso

Desde que o mundo é mundo, as pessoas sofrem por amor. Afinal, desencontros amorosos não são artigo de luxo e acontecem nas melhores famílias. Quaisquer que sejam as circuntâncias em que se constate o fim, o desamor dói do mesmo jeito. Não importa se ele a deixou ou se ela se apaixonou e já tem um outro alguém; tanto faz que ele a tenha traído com sua melhor amiga, mentindo, sendo sacana e inescrupuloso ou que ela tenha flertado por aí enquanto ele trabalhava: os fatos que antecipam o fim não diminuem a dor da ausência de quem se ama. Evidententemente, há atos que machucam mais e deixam feridas mais dolorosas, seja pela falta de transparência ou, simplesmente, porque o amor acabou. E, mesmo não havendo um manual de cura, desistir de um amor requer serenidade e uma vontade interior muito forte de se desvencilhar do que não mais existe. Hoje, não há mais “nós”. A partir de agora, é você e você.

Poucos são os que conseguem virar a página sem mágoas e ressentimentos. Prova disso são os crimes passionais, frequentemente estampados nos jornais e na televisão. Abrir mão de quem se ama é um exercício difícil e requer empenho. Aliás, a rejeição é coisa chata, e a gente começa a aprender isso quando ainda é pequenina, ouvindo nãos e conhecendo limites. Nessa fase, os pais são importantíssimos, pois vêm deles as primeiras noções de limite e respeito. Se esses parâmetros não forem bem estabelecidos durante a formação do caráter de uma pessoa, teremos adultos agressivos e incapazes de lidar com suas frustrações. O assunto é amplo, mas vou me concentrar nas frustrações amorosas, já que hoje é Dia dos Namorados e muita gente, por aí, deve estar chorando a ausência do ser amado.

Compreender ou explicar o fim não significa culpar uma das partes, muito menos justificar os erros. No amor, assim como nas demais relações humanas, todos são responsáveis, já que selaram um contrato, mesmo que fora do papel. Quando o amor acontece, a gente faz escolhas e, nem sempre, acertadamente. Errar faz parte do processo de amadurecimento e auto-conhecimento, mas só é bom quando se aprende com os erros. A repetição contínua de um determinado ato nocivo acaba com o relacionamento, pois, sem harmonia, o amor não evolui nem as pessoas crescem. Se há egocentrismo, não há doação. Sem doação, não há retorno. E, sem retorno, rompe-se o laço e se inicia o nó. Se há respeito, as pessoas crescem juntas e ambas brilham, pois a luz do outro está refletida em cada um. Não há amor quando uma pessoa não se percebe na outra. Amores mesquinhos aprisionam, ofuscam e não deixam a outra parte brilhar, pois não valorizam nem potencializam suas habilidades e virtudes.

Levanto essas questões porque acredito que amar não baste. De que adianta seu afeto, respeito e dedicação se não há reciprocidade? Seu amor pode ser imenso, forte, inabalável, mas de nada valerá se a relação estiver comprometida com mentiras, jogos de interesses, desconfianças. Ele diz que a ama, mas não abre mão de nenhum de seus caprichos e exige que ela cumpra à risca os mandamentos que ele pré-determinou; não perde um jogo de futebol com os amigos para levá-la ao cinema na sexta-feira; não se importa com os questionamentos dela e dá de ombro toda vez que ela procura discutir a relação, desdenhando dessas coisas delicadas do universo feminino. Ela, por sua vez, jura que é amor o que sente por ele, mas se estressa toda vez que ele sente ciúme; invade a privacidade dele, mexe na sua agenda e procura papeizinhos com número de telefone nos bolsos de suas roupas. Ele tenta suprir a carência afetiva dela com presentes e viagens (nas quais não a acompanha, já que o que está querendo é ficar livre da marcação dela), e ela aceita, finge que não entendeu a estratégia dele e vende sua alma ao diabo, pois não conseguiria ser feliz sem o que ele lhe proporciona. Eles jogam e, nesse jogo, ambos saem perdendo.

Se você se enquadra nesses exemplos, se vivenciou uma ou mais dessas situações ou semelhantes, creia: a relação era nociva, vocês estavam doentes. E o melhor remédio, nesse caso, é parar antes que se machuquem mais; concentre-se em você, a fim de se curar do mal do amor. Agora, se você respondeu a essas questões e chegou à conclusão de que essa pessoa ainda vale a pena, não ignore os sinais e vá à luta. A difícil tarefa de amar requer cuidado e ousadia. Há quem não experimente o amor, deixando-o ir sem nem mesmo tentar por medo de sofrer. A covardia não se aplica ao amor, pois quem ama se arrisca, experimenta, se atreve. E, ainda que acabe e seja difícil superar o fim, é possível olhar para trás e dizer que amar vale a pena.

Entender o fim começa com algumas perguntas, cujas respostas darão forte indicativo de que ele(a) não vale a pena para você. Primeiro, é preciso que se tenha clareza do conceito de cada um sobre cumplicidade, respeito e fidelidade. Só então, será possível analisar os fatos em que você e seu amor estiveram envolvidos. Conceitos diferem de uma pessoa para outra, a forma de se conceber o amor também. Mas o importante é que você saiba o que lhe faz bem ou mal, conheça e respeite seus limites, para que faça sua escolha e tente ser feliz de novo.

Questione-se sobre até que ponto ele(a) lhe amou(ama). Pare e pense com calma, sem mascarar os fatos, mas tentando enxergar a verdade nua e crua. Será que havia respeito e cumplicidade na relação? Vocês tinham afinidades? Investigue até que ponto o objeto do seu amor era capaz de ir por você e o que fez, de concreto, pelo seu bem enquanto estiveram juntos(as). Havia carinho, dedicação e empenho de ambos(as) para que desse certo? Ele(a) fez a sua parte?

Final de relacionamento dói, sim. Machuca, fere, sangra. Mas não mata e, um dia, você sara. Você chora, grita, sente cada pontada da dor, mas para de sofrer no tempo certo. Só que não dá para pular essa etapa. É importante lembrar que pessoas não são bonecos, que alguém usa e, quando não quer mais, coloca de lado. E amor não é brinquedo, que, quando quebra, a gente cola, já que gostava tanto dele e não quer se desfazer. Mentiras não colam. Amor desfeito não cola e precisa ser esquecido. Desamor não cola, falta de amor próprio também não. Por isso, leva tempo para a gente digerir e aceitar o fim.

Se você tem um amor, cuide bem dele e tenha um excelente dia dos namorados. Aproveite o frio sob o edredom, com chocolates, capuccino, uma música romântica ou um bom filme, abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim. Crie um clima romântico, prepare um fondue, abra um bom vinho, enfeite a casa com velas aromáticas, flores e incensos. Saboreie o amor intensamente, pois há oportunidades que não voltam mais e o que fica são os momentos que compartilhamos.

Se você não tem, não se afobe. No momento certo, ele chegará para você. Basta que continue cuidando bem do seu jardim, e ele voltará a florescer. Saia com os amigos, ouça música, veja um filme, fique bonito(a) pra você mesmo(a), leia um bom livro, divirta-se, cuide-se bem. Quem se ama atrai quem se ama. E o círculo do amor começa aí.

3 comentários:

Unknown disse...

Muito bom o artigo, Vera, todo o discusso me fez lembrar das nostalgias "Doloresduranianas" que tanto mexem com nossa sensibilidade.

Parabéns!

Alohaaa Aloha disse...

"A dificil tarefa de amar requer cuidado e ousadia." EXATO ! Gostei muito Deda, ficou muito bom o texto, parabens !

:*

Tilla disse...

Sem se esquecer que "todo fim é um começo!"
Gostei Dedys, agora passa no meu por favor? Eu sempre passo aqui e vc nunca comentou láá, só no da Jann :(