domingo, 14 de fevereiro de 2010

Tédio

por Vera Barbosa
Vou falar sobre motivação, mas esse não é um texto de auto-ajuda nem pretende resolver problema algum de quem quer que seja. Apenas reflito porque a cabeça não pára, ainda que o telefone da PA não toque. Em que focar a mente para que o cérebro não estacione até que entre um próximo paciente na linha? Eis a questão, caros colegas. Devo pensar que faltam apenas duas horas e quarenta e cinco minutos para ir embora ou imaginar se irei me divertir, logo mais, à noite? Será que é possível vencer o tédio? Conversava com um colega de trabalho, pois não havia fila e, portanto, não entrava ligação. Então, pedi que ele me sugerisse um tema e ele disse apenas "tédio". Daí, me pus a pensar em como me manter motivada nessa e tantas outras circunstâncias da vida. Porque é fato que, em algumas situações, ele (o entediante tédio) aparece para nos paralisar. A redundância é proposital.

Já que estou no trabalho e não posso ler um livro que comprei nessa semana nem minha revista predileta, tampouco ouvir um CD que acabei de ganhar, eu penso: é tudo o que me resta. E, para que o desespero não me alcance e o sono não me pegue, arrisco essas linhas. Afinal de contas, é feriado, o sol brilha lá fora e as pessoas se divertem enquanto eu trabalho. Trabalho? Tudo bem que fazer nada também é bom às vezes. Rita Lee cantou, certa vez, "nada melhor do que não fazer nada, só pra deitar e rolar com você". Com você, né? Não é o caso! É, acho que vou viajar um pouco e pensar no meu próximo encontro. Ao menos, isso me deixará leve, suave, como diriam minhas sobrinhas. Aliás, a garotada anda leve demais, não? Mas isso é tema para um próximo artigo.

Voltando à questão do tédio, nos anos 80, uma banda (seria Engenheiros do Hawai ou Biquíni Cavadão? Talvez Ira, perdoem-me, mas não me recordo) cantou que "Deitado no meu quarto, o tempo voa / lá fora, a vida passa e eu aqui à toa / Já tentei de tudo, mas não tenho remédio pra livrar-me desse tédio.). Quando a gente está de papo pro ar, numa praia, com amigos, não se sente incomodar. É bom não fazer nada. Apenas conversar, rir, tomar um banho de mar, uma cerveja ou um refrigerante ou aquele sorvete predileto. Então, me vem Santa Rita de Sampa, novamente, à cabeça: "Ai quem me dera, um dia ficar de papo pro ar... ouvindo o som de uma viola".)

Somos mesmo contraditórios. Às vezes, fazemos tudo de um vez, ou, pelo menos, tentamos fazer. Queremos abraçar o mundo com as mãos, assoviar e chupar cana! Noutras, nos entregamos à preguiça, num direito mortal de não pensar em nada. Hoje, eu queria que esse telefone não parasse. Não gosto de ficar olhando para o relógio do PC. É bom quando a fila é grande e atendo sem parar porque as horas voam e o meu expediente acaba rapidinho. Não é o caso nessa tarde.

Portanto, concluo que a melhor forma de espantar o tédio é mantendo-se ocupado. Há um dito popular segundo o qual "cabeça desocupada é moradia pro diabo", um lance assim. E é verdade. Enquanto produzimos, não temos tempo para pensar - nem fazer! - besteiras. Tempo ocioso só é bom se bem aproveitado e, geralmente, não é o que acontece. Começa-se a pensar nos problemas, nas dívidas, a briga com o namorado etc e tal. Se você também não tem nada pra fazer e está lendo esse texto, lamento profundamente. Talvez fosse melhor você ter ao alcance dos olhos um soneto de Drummond ou uma crônica de Rubem Alves. Talvez quisesse ouvir o CD da sua banda de rock favorita ou pegar um cinema com sua gatinha. Ou ir pra uma balada com sua turma mais animada... É, "infelizmente, nem tudo é exatamente como a gente quer".

Quanto a mim, sabe que foi bom escrever? Agora, falta apenas uma hora para eu ir embora. Está vendo como se ocupar é bom?

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