sexta-feira, 25 de maio de 2012

Naquela estação (Você entrou no trem)

por Vera Barbosa


Gosto de ler no ônibus e no metrô. Para me informar, me distrair, passar o tempo, chegar mais rapidamente ao meu destino. É uma forma de tornar a viagem menos difícil e encurtar a distância. Nem sempre é possível, dadas as lotações dos carros e o volume cada vez maior de usuários. Quase sempre, vou em pé, mas dou um jeito de abrir meu livro ou revista sob os olhares dos que estão, mais confortavelmente, acomodados em suas poltronas. Sou baixinha e, não raramente, leio encolhida entre os ombros de um e outro cidadão, o que exige malabarismos para me segurar e ainda conseguir virar a página. Mas até esse desafio torna o hábito mais prazeroso! 

Adoro quando o texto é engraçado, divertido e me pego rindo sozinha diante dos olhares aflitos dos passageiros à minha volta. Mas também me emociono, e é curioso vê-los com uma interrogação enorme na testa, loucos para perguntar por que estou chorando. 

Hoje, no metrô, ao voltar sentada e ler Rubem Alves, me emocionei com um trecho em que ele relembra, ternamente, alguns momentos de infância e a saudade do pai. Por segundos, esqueci onde estava e me deixei levar pela delicadeza das palavras. As lágrimas escorreram, nem me dei conta, e fui surpreendida com a senhorinha ao meu lado, que, esticando a mão, tocou meu braço e ofereceu um lencinho de papel murmurando "não chore, minha filha, vai dar tudo certo", no que respondi sem pensar "é, no final, sempre dá certo". 

Guardei o livro na mochila, me despedi desejando-lhe um bom dia e desembarquei sorrindo naquela estação.

(Ao som de "Naquela estação" - Adriana Calcanhotto) 

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